À Força e Pela Violência


       Reconheça-se de antemão que a Bíblia é um livro difícil de ser lido. Mais ainda de ser compreendido. Mas isso não é de se desanimar porque o mesmo ocorre com a nossa vida. Muitos de nós não entende, não compreende a própria vida. Aliás, amado(a) leitor(a), a Bíblia é o "manual de instruções" do ser humano. Ali estão as instruções e os esclarecimentos acerca do funcionamento, origem e propósitos do ser humano. Quem não conhece a Bíblia não consegue extrair o máximo da vida. Não consegue ser feliz!
       Ocorre, amado(a) leitor(a), é que todos nós somos pecadores e estamos destituídos, arrancados, separados da glória de Deus (Rom.3:23). E gostaria, nesta oportunidade, de discorrer como eu vejo que podemos voltar a desfrutar da glória de Deus.
       O que nos separou da glória de Deus foi o pecado. Para voltar a desfrutar da glória de Deus, conclusão lógica, temos que nos livrar do pecado. É aqui que a coisa fica complicada... o pecado não é uma opção. Está entranhado, empedernido, enraizado, grudado, misturado à própria essência do ser humano. Todos nós fomos formados numa forma defeituosa chamada "pecado". É isto que nos torna gananciosos, arrogantes, prepotentes, egoístas, vingativos, devassos, licenciosos, falsos, medrosos, solitários e infelizes.
       Como é que resolve o problema do pecado? A palavra "pecado" tem dois sentidos: o de ato, prática, atitude que fere, magoa e entristece o coração de Deus; e o de natureza má, perversa e decaída. O ser humano não é pecador porque comete pecado. Mas sim o contrário: comete pecado porque é pecador. Ainda que não cometesse pecado, não deixaria de ser pecador.
       A purificação do pecado ocorre pelo lavar regenerador do sangue de Cristo, com a confissão irretratável da falência de nossos próprios esforços, convidamos o Espírito de Deus a tomar conta de nós e dirigir-nos no caminho pelo qual devemos andar.
       O ser humano estava separado, destituído da glória de Deus. Jesus abriu, com sua vida, morte e ressurreição, uma porta que nos conduz de volta à glória de Deus (Jo. 10:9-10). Uma porta pequena e apertada que é difícil de ser encontrada, e são poucos que a encontram e muito menos os que por ela passam. Menos ainda permanecem no caminho que além de estreito, é sinuoso, cheio de curvas. Por isso a Bíblia diz que o 
 
"reino de Deus é tomado à força, e pela violência se apoderam dele" (Mt.11:11-12).
 
       Que tipo de violência, que tipo de força é essa de que a Bíblia fala? Por que temos que usar de força e de violência? Não é Jesus que faz a obra? O que mais temos que fazer? Não basta aceitar o sacrifício de Cristo. Temos que permitir que o Espírito de Deus nos domine, nos conquiste, no conduza.
       Já disse e repito que o Antigo Testamento, quase todo ele, é constituído de figuras, de alegorias, de símbolos para nossos dias, para a igreja moderna. Nesta linha de raciocínio, o Egito representa o mundo de onde fomos resgatados por Jesus, e temos que conquistar a Terra Prometida. Gostaria de recomendar a leitura do livro "O PEREGRINO" de John Bunnyan (ou coisa parecida), que retrata essa jornada.
       Não saímos do Egito para Canaã, sem lutas, sem guerras, sem força e violência, como alguns desavisados pregadores tem ministrado à igreja com muito sucesso. Isto é, não é porque aceitamos o sacrifício de Cristo que somos imediatamente transportados para o paraíso terrestre. Isso não corresponde à realidade dos fatos, e nem à realidade bíblica. Depois do grande e terrível deserto Canaã teve que ser CONQUISTADA. Só os fortes e valentes (violentos) conquistam Canaã, o paraíso terrestre. Os demais são derrotados... e abandonam a igreja....
       Amado(a) leitor(a), você tem usado de força e violência para conquistar Canaã?

À FORÇA E PELA VIOLÊNCIA (2)

       Estamos falando sobre a conquista do Reino de Deus, acerca do qual Jesus disse que somente com força e violência seria conquistado (Mt.11:11-12). O Reino de Deus é a Canaã dos hebreus que saíram do Egito, é o paraíso terrestre, é a presença de Deus, é o fato de chegarmos a ser e permanecermos cheios e transbordantes da graça, da glória, do Espírito Santo de Deus.
       Na conquista de Canaã, Israel teve que lutar contra e expulsar os amorrreus, os heveus, os heteus, os perizeus, os anaquins, os geruseus, os maacateus, os filisteus, e todo os outros povos que invadiram as terras que foram abandonadas (leia o livro de Josué que trata da conquista - ou reconquista - da terra prometida) quando Jacó desceu ao Egito com toda sua descendência (Gen.47) fugindo da fome que assolava o mundo de então.
       Hoje, a nossa luta não é mais contra as pessoas, contra o sangue a carne, na dicção bíblica (Ef.6:12). Os amorreus, os heveus, os heteus, os perizeus e demais habitantes de Canaã contra quem temos que lutar somos nós mesmo. Todos nós somos carnais e vendidos sob a escravidão do pecado (Rom.7:14-24), e as obras da carne são manifestas em nós, conforme descrição de Gálatas 5:19-21. Entende agora porque a Bíblia diz em I Pe.2:11:
 
"Amados, exorto-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências da carne, as quais combatem contra a alma".  I Pedro 2.11

       Esses são os inimigos contra os quais temos que lutar. Essa carnalidade precisa ser expulsa, extirpada de nossa alma, nosso espírito, nossa essência, nossa existência.
       Não existe uma coexistência pacífica entre a carne o espírito. Eles são opostos entre si (Gal.5:17). Não podemos ter piedade do velho homem, fazer acordos com ele, permitir que viva em nós (Rom.6:6, Ef.4:22, Col.3:9). Quem não usa de força e violência não consegue vencer a luta contra o velho homem, contra a própria carnalidade, contra a sua própria essência natural que é má, perversa, e decaída.
       A pergunta é: estamos lutando contra nossa carnalidade? Estamos usando de força e violência para conquistar nossa Canaã Celestial? Para que a nossa corruptibilidade seja revestida pela incorruptibilidade? Para que nossa mortalidade seja revestida pela imortalidade (I Cor.15:53-54)?
       Nossa carnalidade é o nosso estado natural. Não precisamos lutar para que a carne domine. Para que sejamos tomados pelo desânimo, pela raiva, pela frustração, pela solidão, pelo desapontamento, pela ganância, pela lascívia, pelo desejo de abandonar a igreja e nos afastarmos dos membros que nos feriram e nos magoaram. Entende o que quero dizer?
       A realidade irretorquível, inescusável é: ou lutamos com força e com violência para que o sobrenatural vença, ou somos naturalmente vencidos pela nossa própria carnalidade, e deixamos a Igreja de Cristo, mesmo que continuemos assistindo os cultos nos templos.
      Em outras palavras: ou o velho homem (carnalidade, natureza má, perversa e decaída) é vencido e nos chegamos e permanecemos na presença de Deus, ou o novo homem (espiritual, sobrenatural) é vencido e somos arrancados da presença de Deus.
       O amado(a) leitor(a) está lutando contra o velho homem ou fazendo o que mais da metade da população da igreja faz: tentando uma "composição amigável", uma "coexistência pacífica" entre o santo e profano, a carne e o espírito, entre o mundo e a igreja, entre o pecado e a glória de Deus?
       O Reino de Deus (céu) é a presença de Deus. O inferno é a distância de Deus. Entre o céu e o inferno está o pecado. Temos que escolher entre um e outro. Contra quem estamos lutando?

Autor:  Takayoshi Katagiri